Política enclausurada

Podemos considerar a Política como o processo pelo qual uma sociedade discute seus problemas e estabelece formas de agir para resolvê-los.

Alguns desses problemas são perenes, como a produção de alimentos, o saneamento básico, a construção e manutenção de moradias, ou a prestação de serviços de transporte, saúde e educação.


Outros problemas são pontuais, podem surgir em virtude de condições naturais (chuva, seca, epidemia...) ou sociais (envelhecimento da população, crescimento demográfico...).

Também a Política é o processo de discussão social do futuro e de formas de desenvolvimento para se chegar a ele.

Por ser um processo complexo, que envolve a discussão e a ação sociais, a Política está sujeita a limites que podem decorrer de questões tecnológicas, de recursos naturais ou da estrutura social.

No caso do Brasil, no início de 2023, a Política encontra-se excessivamente limitada em virtude de nossa estrutura social e das ideologias por ela produzidas.


Isso significa que a discussão e a ação políticas poderiam ser muito mais amplas e efetivas do que realmente são. O Estado brasileiro, não fossem esses limites, poderia promover debates democráticos para definir seus rumos envolvendo parcela maior da população e poderia agir beneficiando mais gente.

Sem ser exaustivo, posso citar alguns desses limites que tolhem a capacidade de agir da Política brasileira:
  • A maior limitação ao processo de discussão e de ação políticas decorre da ideologia neoliberal, preconizando que a economia não pode ser planejada pela sociedade mas deve obedecer às leis de mercado, como oferta e procura e concorrência;
  • No caso especificamente brasileiro do presente, a crença de que todo o campo democrático precisa se unir contra a extrema direita impede o alargamento das propostas políticas e o aprofundamento de medidas que corrijam as injustiças sociais, reduzindo a Política ao jogo de distribuição de cargos e apoios para formar coalizões.


Além dos dois limites citados acima, podemos citar ainda:
  • O controle exercido pela mída tradicional e pelas empresas digitais de tecnologia sobre o espaço público das discussões impede a formação de uma opinião pública mais complexa e democrática, esvaziando a reflexão e transformando os partidos políticos em partidos digitais que arregimentam "seguidores";
  • O projeto de poder de grupos religiosos envolve o controle do pensamento de fiéis por meio de uma lógica tradicionalista e a ocupação dos três Poderes do Estado, neutralizando ações políticas de transformação social.

A Política brasileira não mostra sinais de que possa sair de seu enclausuramento e promover uma transformação social mais profunda.

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